domingo, 23 de dezembro de 2012

A MEXICANA II - FINAL DA SAGA

Continuava minha rotina de passear com meu gato, gostava de fazê-lo principamente nas noites em que meu Romeu internético estava trabalhando, pois sempre tinha boas histórias para ouvir.
Na verdade, ouvir e aumentar meu grau de preocupação. O quê aquela criatura poderia querer com um rapaz de pouquíssimas posses, porteiro de um prédio, que ela só conhecia através de uma tela? Gente, por favor, não me tomem por preconceituosa, ou por uma cretina qualquer que acha que o amor entre diferentes não pode acontecer. Pode sim. Já vi,com felicidade, muitos relacionamentos darem certo. Mas a história que acontecia embaixo de meus olhos era cheia de mistérios, de meias verdades, de fantasias. Eu tinha medo pelo rapaz. Ser usado como "mula" para traficar drogas não me parecia viável, afinal, não faltam pessoas necessitadas que se arriscam a tanto no México por um punhado de dólares. O mais plausível seria ela ter um contato idôneo aqui no Brasil, alguém acima de qualquer suspeita, um endereço. Minha imaginação voava e meus temores idem. Faltando dois dias para a chegada da mexicana, eis que volto da aula e encontro o apaixonado sentado cabisbaixo na escada do prédio.O que houve? O que aconteceu? " Dona Ana, a mãe dela teve um infarto, está muito mal na UTI.Ela não vem mais". Oh! dó! Putz, que azar!! essa mulher não podia ter esperado um pouquinho mais para adoecer? Juro, não queria ser maldosa, mas não adiantava. Na minha cabeça era muito claro que aquele infarto havia sido extremamente providencial. Corroborava ainda com a minha certeza o fato da mexicana não querer mais se relacionar com seu "tão grande amor". Alegava querer ficar sozinha, precisava cuidar do pai, não queria conversar com ninguém. "I WANT TO BE ALONE PLEASE !! Ora, quem ama, se ama, quer mais é ter consolo numa hora sofrida como aquela e ele, mesmo a milhares de quilômetros continuava a hipotecar sua solidariedade, seu afeto, seu apoio. Ele ainda alimentava a esperança de que a mamãe ficasse boa, mas os dias iam passando e ele ia murchando qual flor de cemitério. E foi para um cemitério que a dita senhora se mudou. A mãe bateu as botas, segundo eu sei, foi de tanta emoção por saber que a filha iria se casar.
O que se faz num momento desses? Se fosse comigo eu teria providenciado de imediato uma passagem para que meu amado ficasse ao meu lado, me consolasse, me fortalecesse com seu amor, pois é isto que todo mundo deseja quando sofre uma perda tão grande: um colo amoroso onde se possa chorar nossas dores. Mas não a mexicana. Ela queria ficar só. Já não telefonava, não respondia e-mails, não mandava mensagens. Ele aqui aflito, desesperado, sem notícias. Passava as noites grudado no celular a espera de uma palavra, um gesto. Creio que se pudesse ele se agarraria nas asas de um urubu e voaria até o México. Geralmente uma tragédia deste porte une as pessoas. Não foi o caso. Desculpas, desculpas e desculpas. O tempo passava, ele continuava a ter esperanças, ela cada vez mais afastada. Passou o período crítico do luto imediato e nada dela se manifestar em vir para o Brasil. Agora não, o pai começou a beber, tornou-se um ébrio, um bêbado que tinha que ser recolhido das sarjetas. Não deu outra: o papai morreu, afundado em tequilas e margaritas.
Bom, famíla devidamente morta (não sei se os dois irmãos também tiveram o mesmo destino), era óbvio que ela também cavasse uma cova e se enterrasse em vida. Durante umas semanas nosso Romeu ainda buscava justificativas para o silênco absoluto de sua amada. De minha parte, procurei não tocar mais no assunto, sentia que ele ficava desconfortável, envergonhado até. Não admitia, mas sabia-se vítima de um golpe. Quanto a ela, o que posso pensar? Que foi presa junto a uma grande carga de coca? Que achou outro ingênuo para enganar? E ele? Por incrível que pareça não aprendeu a lição. Ontem fiquei sabendo que está de novo se relacionando com outra mexicana. Pode??

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