domingo, 23 de dezembro de 2012
CHEGADAS E PARTIDAS
Existe um programa, transmitido pelo canal GNT, no qual uma apresentadora anda pelo Aeroporto de Guarulhos (SP) a procura de histórias interessantes para contar ao público. Gosto muito de assistí-lo. Na maioria das vezes são comoventes (separações nunca são felizes), outras são plenas de felicidade pelo reencontro tão desejado. As pessoas contam suas experiências, seus sentimentos, compartilham conosco suas ansiedades, medos e alegrias.
Um Aeroporto do tamanho do de Guarulhos é um mundo. Tudo ali pode acontecer. E acontece.
Pais esperam filhos que chegam depois de uma longa temporada fora, mulheres ansiosas esperando maridos para lhes contar que a cegonha está chegando, pessoas que vão se conhecer ao vivo ali, depois de meses de contatos virtuais, pedidos de casamento e até uma viagem lua de mel sem marido. Isso mesmo, a moçoila havia terminado o noivado e resolveu aproveitar a passagem já marcada para quem sabe, encontrar um guapo argentino.
Mas houve uma em particular que me deixou em choque. De fato, não sabia se sentia pena, se ria, se chorava, se sentia raiva.
Deu-se assim: Astrid, a apresentadora se aproxima de duas mulheres. Uma mais velha, na casa dos 50, mas bem apanhada, bem vestida, falante, excitadíssima com o que estava por vir. A outra, uma jovem japonesa; era a nora muda. Em nenhum momento abriu a boca.
Indagada sobre quem ela estava esperando a mais antiga desandou a falar: o homem de sua vida estava chegando da Austrália, mas se dizia inglês. Há mais ou menos cinco meses vinham mantendo um relacionamento amoroso pela internet e agora ele vinha buscá-la para casarem.
Como assim, bigode??? Não tem foto, celular, endereço, nada??? Não, não tinha. Percebi que Astrid começava a passar mal. A cada pergunta mais uma resposta inusitada. A sujeita não tinha medo de nada, ia casar sim e ser muito feliz. Os filhos, evidentemente eram contra e a nora, coitada, àquela hora queria ter um buraco para se enfiar e nunca mais sair.
O dito começou a demorar a chegar. Dentro em pouco eis que toca o telefone. Era ele, enfim!
Ela, num inglês macarrônico só conseguia entender que o "amado" estava retido na polícia federal e que precisava urgente de U$ 5.400 caso contrário seria preso ou deportado.
Ainda crédula, estava pronta para sacar a grana. O dinheiro, sem dúvida deveria ser uma sobre taxa devido a um presente caríssimo que ele havia lhe trazido.
A essas alturas, Astrid só cobria o rosto com as mãos e balançava a cabeça. A conselho dela, chamaram uma intérprete que conversou com o dito cujo e supresa das surpresas, o sotaque da criatura era árabe ou indiano. Qualquer coisa, menos o sotaque da rainha.
Foram então à polícia. O delegado nem deixou a apaixonada falar, já lhe cravou o golpe de misericórdia: ela que desse Graças a Deus, pois tinha se livrado de um golpista de marca maior que já estava devidamente engaiolado.
Se fosse comigo (bom, eu não ia ser tão tansa de cair numa mutreta dessas) teria feito como uma avestruz: enterrado minha cabeça no piso do aeroporto para todo o sempre.
Mas ela não. Aparentemente demonstrou uma altivez digna de um Oscar. Disse que a vida sempre reserva surpresas, umas boas e outras ruins. Aquela havia sido péssima, mas ela esperava por momentos melhores. Saiu amparada pela nora sem verter uma lágrima sequer.
É provável que esteja a chorar até hoje, mas agora longe das câmeras, não só pelo mico pago (nem sei como ela permitiu a exibição de seu vexame), mas sobretudo pela solidão em que vivem certas pessoas que ainda acreditam em contos de fada.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário