segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

UM TSUNAMI NAS ALTURAS

Nenhum entrevero anteriormente acontecido tirou nossa expectativa de rever Gramado. Felizes, carro novinho em folha, já bem treinados em questões campistas, partimos de Balneário cedinho rumo à serra riograndense. Chegamos ao camping com uma temperatura inusitada, fazia um calor danado. Armamos nossas tralhas, tomamos banho, vestimos uma roupa fresquinha e tomamos o rumo de Canela. Nossa programação para aquela noite se limitava a um bom jantar e depois assistir ao show de iluminação e música que acontece na catedral da cidade. Noite perfeita. Batemos fotos, comi um risoto de aspargos frescos divino, depois nos sentamos num café e nos deliciamos com sorvete esperando o espetáculo começar. Quer mais pefeição? Lua cheia e céu estrelado.Emoção pura. Noite Feliz, então para mim é o símbolo máximo do natal e quando os auto-falantes começaram a tocá-la fiz uma calda de lágrimas em cima do sorvete. Cansados, afinal havíamos viajado por quase todo o dia, voltamos ao camping e dormimos o sono da Bela Adormecida em nosso colchão inflável. Amanheceu cinza, talvez uns 20 tons, mas nada que tirasse o nosso bom humor. Tomamos nosso café (sim, no camping servem um café ótimo) e saímos para tirar fotos das ovelhas. Enquanto as peludas faziam pose, conhecemos um casal carioca, já passados dos 60, que viaja pelo Brasil e toda a América do Sul num Fusca. Gente finíssima, cheia de histórias boas de ouvir, nem reparamos que uma neblina começava a se debruçar indolente sobre o camping.De repente já não víamos mais nada além de um metro. Tive certeza: fomos teletransportados para Londres. Uma garoa de molhar bobo também se fez presente, mas não seriam esses maus humores da natureza que iriam acabar com nosso passeio. O calor havia se escafedido, um friozinho se anunciava.
Estoicamente nos arrumamos, lançamos mão dos nossos guarda-chuvas e fomos em frente. A chuva engrossava que nem mingau de maizena. Fizemos um tour num ônibus chamado de "vovozona", almoçamos, tiramos mais fotos e voltamos para a barraca.
De longe tudo parecia normal, mas ao me jogar estafada no colchão afundei num lago, que não era o famoso Lago Negro. A barraca estava absolutamente inundada. Tudo estava molhado. Era como estar dentro de uma máquina de lavar roupas.
O primeiro momento foi de espanto, de raiva. Que fazer? Chorar? Mais lágrimas só iriam aumentar a inundação. Arrumamos o que pudemos e saímos a procura de colchão, roupa de cama, toalhas, cobertas. Voltamos com tudo novo e também uma outra lona plástica para cobrir melhor nosso abrigo. Agora sim, o céu podia despencar, a lona alaranjada não permitiria que nenhum pingo de chuva mais atrevido adentrasse em nossa barraca. E assim foi. Ainda conseguimos assistir um filme até o sono chegar. Manhã seguinte, mais chuva, mais neblina, porém não nos abatemos. Outro almoço maravilhoso (minha dieta de melão estava escorrendo como água morro abaixo), resolvi fazer umas comprinhas (as únicas por sinal). Como fazia bastante frio optamos por um buffet de sopas para o jantar. Meu marido vestia seu casaco de couro e enquanto jantávamos ele o deixou pendurado na cadeira. Ao sair, sem perceber, levou junto a cobertura do encosto. Só me dei conta do que estava acontecendo quando o vi sendo revistado pelo garçon, acusado de ter roubado a dita cobertura. Rimos às gargalhadas, ora onde já se viu alguém querer roubar um pedacinho de pano? Se fosse para afanar alguma coisa que fosse algo valioso que valesse a pena passar a noite no xadrez. Tranquilos, nos preparamos para assistir mais um filme e depois dormir. Eu não vi nada, caí no sono quase que imediatamente. Não sei quanto tempo depois acordo com gritos, com água escorrendo em cima de mim, meu marido pulando feito um doido, tentando salvar o que podia ser salvo, nós dois molhados até os ossos, só uma manta não havia molhado. Todo o resto foi levado pelo tsunami que desabou sobre nós. A lona não suportou o peso da água. Lutamos como dois náufragos, levamos o que podia para o carro e ali fomos dormir. Eu, por ser menor, me acomodei no banco do motorista, mas confesso, até hoje ainda sinto o freio de mão no meu quadril. Fomos vencidos. Nosso passeio terminava ali. As seis horas da manhã entulhamos o porta malas com o que havia sobrado. Barraca, lonas, tudo ficou para trás. Era um cenário desolador. Sapatos? Nem pensar! Meu marido dirigiu descalço, com as calças molhadas, grudando-lhe nas pernas. Frustrados? Evidente que sim. Mas foi uma aventura e tanto. Se ano que vem quero ir para Gramado? Nem morta meu bem! Prefiro me entupir de Dramim e enfrentar um cruzeiro. Água por água prefiro vê-la de dentro de um navio.

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